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Destaques

Vou ter que tomar remédio para sempre?

Uma das perguntas mais frequentes no consultório de psiquiatria é se o paciente terá que tomar o medicamento para sempre ou por um longo período. A resposta é: depende. A duração do tratamento psiquiátrico depende de diversos fatores. Não existe um padrão de tempo e nem sempre conseguimos prever a sua duração. Alguns diagnósticos exigem tratamentos prolongados, podendo se estender por toda a vida, como é o caso da esquizofrenia ou do transtorno bipolar. No caso da esquizofrenia, trata-se de um transtorno incurável, e a sua condição pode piorar progressivamente ao longo da vida. A interrupção da medicação pode resultar no retorno dos sintomas positivos (delírios e alucinações), e o tratamento a longo prazo pode garantir melhor qualidade de vida melhorando os sintomas negativos (como as dificuldades sociais, redução das demonstrações de emoção e falta de prazer nas atividades diárias). No transtorno bipolar, o tratamento contínuo pode evitar novos episódios de mania e depressão, bem como...

Você provavelmente não tem compulsão alimentar

Compulsão alimentar x Alimentação impulsiva

É muito comum um paciente chegar com a queixa de "compulsão alimentar", dizendo frases do tipo: "quando estou ansiosa, eu como chocolate", "sou viciada em doce", "não consigo emagrecer, entro na padaria e fico doido".
Mas, na maioria dos casos, não se trata de compulsão alimentar.

O que é compulsão alimentar

Apesar de não existir formalmente o diagnóstico de adicção (vício) em comida, a compulsão alimentar é basicamente um comportamento de uso de comida como se fosse uma droga, provavelmente devido a desajustes nos mesmos circuitos cerebrais dos vícios.
Como em toda adicção, a 'comilança"  deixa de ser um ato prazeroso e com a finalidade de saciar a fome e se torna um comportamento compulsivo e irracional.
Acesse meu texto sobre o funcionamento do vício para entender melhor: Como Funciona o Vício
A compulsão alimentar se apresenta em episódios com tempo definido (por exemplo, num período de 1 hora), em que a pessoa come uma quantidade superior ao que a maioria das pessoas comeriam. Há o sentimento de falta de controle sobre a ingestão de alimentos; comendo mais rápido do que o normal; sem ter fome; até se sentir completamente cheio, podendo vir a passar mal. É um quadro que gera muita angústia e sofrimento, em que a pessoa costuma comer escondida, sozinha, por vergonha do seu comportamento.
Esses episódios ocorrem, em média, uma vez por semana, precisando se repetir por pelo menos 3 meses para ser considerado um transtorno.

A obesidade nem sempre é o problema da compulsão, estando esse quadro presente em aproximadamente metade dos pacientes. Porém, mesmo na ausência do excesso de peso, a pessoa torna-se refém do comportamento compulsivo, gerando muito sofrimento…

Alimentação impulsiva (ou Alimentação emocional)

Quando a pessoa está ansiosa e come uma caixa de bombom sozinha, isso não é compulsão! Ela está angustiada, então busca um alimento que a dê prazer e alegria.
O que pode estar por trás é uma falha no controle de impulsos. A pessoa fica ansiosa e, quando percebe, já está "enchendo a cara" de, por exemplo, um pão doce, justamente por gostar dessa comida e saber que ela traz prazer, mesmo não devendo "descontar" no alimento.

A alimentação impulsiva também pode gerar culpa, vergonha, levar ao ganho de peso e atrapalhar o emagrecimento. Porém, o mecanismo cerebral é diferente, e a gravidade, geralmente, é menor.

Enquanto a compulsão é um hábito de comer exageradamente, no qual não há mais prazer envolvido, na alimentação emocional a pessoa pode até comer muito, mas sempre buscando o prazer e conforto no alimento. Na compulsão, a ansiedade ocorre pela falta do alimento e comer gera um alívio, como numa crise de abstinência de um usuário de drogas, enquanto na impulsividade há uma ansiedade externa por outro fator, e comer algo prazeroso alivia essa ansiedade.

Não encontrei material confiável fazendo a relação entre alimentação impulsiva como fator de risco para compulsão alimentar. Porém, extrapolando para o uso de drogas, onde pessoas com transtornos do impulso apresentam risco elevado de se tornarem usuários compulsivos,  podemos inferir que pode existir sim esse risco. 

Essa diferenciação é muito importante para entendermos e tratarmos corretamente. Infelizmente, esse equívoco ocorre inclusive entre profissionais de saúde. Pessoas com um transtorno de ansiedade, comendo para aliviar essa ansiedade externa, vêm sendo tratadas como um quadro compulsão alimentar.
O que recomendo a quem estiver com algum problema com a alimentação é procurar um psiquiatra e explicar seus sintomas e deixar para o médico fazer o diagnóstico.






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