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Destaques

Vou ter que tomar remédio para sempre?

Uma das perguntas mais frequentes no consultório de psiquiatria é se o paciente terá que tomar o medicamento para sempre ou por um longo período. A resposta é: depende. A duração do tratamento psiquiátrico depende de diversos fatores. Não existe um padrão de tempo e nem sempre conseguimos prever a sua duração. Alguns diagnósticos exigem tratamentos prolongados, podendo se estender por toda a vida, como é o caso da esquizofrenia ou do transtorno bipolar. No caso da esquizofrenia, trata-se de um transtorno incurável, e a sua condição pode piorar progressivamente ao longo da vida. A interrupção da medicação pode resultar no retorno dos sintomas positivos (delírios e alucinações), e o tratamento a longo prazo pode garantir melhor qualidade de vida melhorando os sintomas negativos (como as dificuldades sociais, redução das demonstrações de emoção e falta de prazer nas atividades diárias). No transtorno bipolar, o tratamento contínuo pode evitar novos episódios de mania e depressão, bem como...

Cuidados no diagnóstico de TDAH

Muito tem se falado hoje sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, mais conhecido como TDAH. Encontramos, em dezenas de páginas de Instagram, canais do Youtube, até em perfis de Tiktok, quase que “manuais de autodiagnóstico de TDAH” - listas simplificadas de sintomas, como um check-list... “Se você tiver isso, você pode ter TDAH”. Porém, temos que tomar muito cuidado com essas informações! O autodiagnóstico nunca é recomendado e, no caso de um transtorno do neurodesenvolvimento, que implica diversas dificuldades e exigem tratamentos complexos, como é o caso do TDAH, o autodiagnóstico, ou um diagnóstico mal feito, é perigoso!

Diagnóstico de TDAH não é uma receita de bolo

Pretendo, em um próximo post, fazer um texto bem detalhado sobre o TDAH e a neurologia por trás da doença. Porém, resumindo, trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento: a formação de algumas conexões em circuitos cerebrais  envolvendo regiões do córtex pré-frontal (a região do cérebro mais “moderna” evolutivamente) não ocorreu conforme o esperado. A causa ainda não é totalmente esclarecida, com prováveis fatores genéticos, ambientais e sociais envolvidos. Os sintomas se agrupam na tríade "desatenção, hiperatividade e impulsividade".


Os portadores de TDAH apresentam incapacidade de manter a atenção por um tempo suficiente para a resolução de problemas, além da desatenção seletiva ou incapacidade de focar. A necessidade de manter o foco em uma atividade exige grande esforço, podendo gerar fadiga. A desatenção pode ter impacto importante na organização de horários e compromissos, manejo de contas, perda de objetos... Os pacientes podem apresentar também sintomas de impulsividade, como falar sem pensar, interromper e terminar as frases dos outros, explosões de raiva, se colocar em situações de risco, tomar más decisões... Já a hiperatividade consiste em inquietação, agitação (bem visível em crianças em idade escolar) ou falar excessivamente.


Certo! Os sintomas são bem claros, mas a presença deles não necessariamente significa TDAH.

Os sintomas podem estar relacionados a outros transtornos psiquiátricos:

  • Os sintomas de atenção e foco podem estar presentes em casos de depressão, ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia, dores crônicas, transtornos de sono e vigília, uso de substâncias...
  • Os sintomas de hiperatividade e impulsividade podem estar presentes em transtornos de ansiedade, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos de conduta, uso de substâncias.

Não podemos, também, descartar os fatores educacionais, principalmente quando lidamos com pacientes em idade escolar. Em algumas situações, os possíveis sintomas de hiperatividade e impulsividade podem ser apenas falta de limite. Déficits em estímulos educacionais, estímulos ao estudo, à leitura, ambientes impróprios, violentos, barulhentos, podem gerar problemas de atenção.

Há aqueles que procuram um diagnóstico de TDAH... Pode parecer chocante, mas isso costuma ocorrer. Adultos buscando “desculpas” para problemas próprios ou com seus filhos, além de pessoas que simulam um diagnóstico em busca das drogas psicoestimulantes utilizadas no tratamento, a fim de melhorar seu desempenho profissional e acadêmico.

Os medicamentos para tratar TDAH apresentam potenciais efeitos colaterais importantes. São medicações que, se mal utilizadas, podem piorar ou até mesmo gerar sintomas psiquiátricos, como ansiedade e insônia, além de poder desregular funções nobres e delicadas da cognição a longo prazo.

Concluindo, o TDAH é um quadro importante, e a falta de tratamento pode gerar muito sofrimento para quem é portador. Quando bem diagnosticado, o tratamento pode mudar a qualidade de vida do paciente. Porém, o diagnóstico tem que ser feito com muita responsabilidade, por profissionais responsáveis e capacitados, para que evitemos prejuízos que uma abordagem terapêutica incorreta possa trazer. 

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